terça-feira, 17 de novembro de 2009

EJACULAÇÃO RETRÓGRADA

O que é?

Durante uma relação sexual, o esperma (sémen) é lançado pela uretra e daí para fora do corpo. Quando ocorre o inverso, isto é, em vez de sair pela uretra, toma a direcção da bexiga, chama-se de ejaculação retrógrada.
Normalmente durante a ejaculação, a bexiga fecha a "saída" (colo vesical), impedindo que o esperma entre no seu interior e fazendo com que este saia pela uretra e extremidade do pénis.

A ejaculação retrógrada é um problema que afecta alguns homens após a cirurgia de realização de uma ostomia.

Como se desenvolve?
As causas podem ser neurológicas, traumáticas ou medicamentosas.

Neurológicas: Entre as causas neurológicas temos a esclerose múltipla e os traumatismos de coluna.
A neuropatia periférica secundária a diabetes frequentemente causa a ejaculação retrógrada.

Traumáticas: Como causas traumáticas temos as cirurgias abdominais ou pélvicas, que podem interferir na enervação da bexiga e assim causar o problema.
Outros procedimentos cirúrgicos, como a ressecção endoscópica da próstata também interferem no colo vesical originando a ejaculação retrógrada, como é o exemplo de algumas cirurgias de realização de ostomias (urinárias e digestivas).

Medicamentosas: Como causas medicamentosas, temos alguns medicamentos que são utilizados para tratamento de doenças cardíacas ou do aumento da pressão arterial, que podem levar a este problema.

O que se sente?
O paciente nota uma nítida redução no volume do esperma ou mesmo ausência deste no momento do orgasmo.

Como se faz o diagnóstico?
Um exame qualitativo de urina é colhido logo após o orgasmo e examinado ao microscópio; se houver a presença de espermatozóides, o diagnóstico de ejaculação retrógrada está feito.

Quais as consequências?
A principal consequência da ejaculação retrógrada é a infertilidade masculina.

Desconforto físico e psicológico durante as relações sexuais são outras queixas observadas.

Como se trata?
O tratamento mais utilizado é o uso de medicamentos que fecham o colo vesica.A estimulação vibratória peniana e a eletroejaculação são técnicas especiais utilizadas principalmente em pacientes neurológicos.

Na infertilidade, pode-se recuperar os espermatozóides, recolhendo-os da urina após o orgasmo e de imediato fazer inseminação artificial.

Para facilitar as relações na falta de ejaculação, o utente poderá usar lubrificantes especiais.


Caso apresente este problema não hesite e fale com o seu médico e/ou enfermeiro de família.

Bibliografia:
http://www.abcdasaude.com

CASCAISआna Filipa1, MARTINI Jussara2, ALMEIDA Paulo Jorge,” O Impacto da ostomia no processo de viver humano”, p. 163-167.

-------------------------------------------------------Enf. Paula Leite


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A vida tem outro sentido!

Em Agosto de 2008 foi-me diagnosticado um adenocarcinoma do recto. Esse foi um dos meses mais terríveis na minha vida. Eu tinha um cancro dentro de mim, uma coisa maligna, que no meu entender iria apoderar-se do meu corpo se não fosse já removida! Estava disposta a fazer tudo para aniquilar “essa coisa”. Contudo isso não seria assim tão simples. Tinha de esperar! Esperar os exames, esperar pelas consultas, esperar pelo veredicto final. A espera é terrível nestas circunstâncias. Um dia de espera parecem anos, uma hora dias e um segundo horas.

Antes de remover o tumor tinha de efectuar tratamentos de rádio e de quimio. Outro choque! Agora eu era uma doente oncológica! E isso era angustiante. Eu tinha consciência do que estava a passar mas não sabia nada o que me iria acontecer. Já não controlava as decisões. Perdi o poder de decidir. Estava nas mãos dos médicos! Tinha de confiar na sua competência para ficar, como diziam, quase boa!. E assim foi.

Fui submetida a três cirurgias, uma para remover o tumor, outra devido a uma complicação cirúrgica e outra para fechar a ostomia. Durante este percurso experienciei sentimentos de angústia, de sofrimento, de dúvida, de dor, de dependência, que me conduziam frequentemente ao desespero mas também experienciei sentimentos de verdadeira compaixão, de ajuda, de amizade e de amor. Para isso contribuíram as pessoas da minha família, as amigas e os amigos, os e as desconhecidos (as) que se tornaram amigos (as), alguns médicos que me apoiaram. Todos me fizeram ver que apesar de tudo eu “estava viva”.


Era isso mesmo “eu estava viva” e iria fazer tudo para não me esquecer disso. Sim, porque apesar de tudo muitos doentes com este diagnóstico não têm essa sorte. Este é um dos cancros mais mortais em Portugal. É também um dos cancros que tem mais probabilidade de aumentar nos próximos anos nas sociedades desenvolvidas devido em parte, não só à hereditariedade, mas também aos estilos de vida sedentários e à alimentação pobre em fibras. Um cancro que causa muito sofrimento.Essa experiência levou-me nestas férias, um ano depois do sucedido, a ler um livro, um best-seller internacional, denominado “Às terças com Morrie” de Mitch Albom. Esta obra descreve o modo como uma pessoa, um professor com qualidades humanas excepcionais, com o diagnostico de uma doença terminal aborda a vida que lhe resta e consegue fazer desse processo uma lição de vida.

Por isso quando me pediram para escrever umas palavras sobre a experiência de ser ostomizada faço como Morrie que em vez da palavra “coitado (a)” prefere a de “afortunado (a)”. Pois o facto de termos tempo para racionalizar a experiência de sofrimento torna-nos mais fortes, capazes de seleccionar o essencial da vida, de a viver como se fosse o último dia, de dar valor às pessoas e ao “cultivo” de relações humanas gratificantes. Este último procedimento é o mais importante pois são essas pessoas que nos ajudam a tornar o sofrimento em motivação para o superar.


A doença e o sofrimento dela decorrente permitem-nos alcançar outra leitura para a vida. E como Morrie lembro que “tanta gente anda para aí com uma vida sem sentido. Parecem adormecidos, mesmo quando estão ocupados a fazer coisas que consideram importantes. Isso é porque perseguem as coisas erradas. A maneira de dar sentido à nossa vida é dedicá-la a amar os outros, dedicar-nos à comunidade à nossa volta, e dedicar-nos a criar qualquer coisa que nos dê um propósito e um significado”. Sei que este é o lema desta Liga dos Amigos do Hospital do Barreiro e a partir de agora passa a ser também uma prioridade minha, no presente e no futuro.


Maria Irene L.B. de Carvalho 15 Setembro de 2009

In Newsletter nª 34/2009
Liga dos Amigos do Hospital Distrital do Barreiro