segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Grávida com Ostomia - Parte I

A grávida com ostomia depara-se com várias mudanças durante o período pré-natal. Para além das mudanças comuns da gravidez, a grávida com ostomia experimenta mudanças adicionais, nomeadamente ao nível da auto-imagem e do auto-conceito, do stress dos cuidados diários ao estoma, entre outros. Vários autores têm demonstrado, no entanto, que a grávida com ostomia pode ter uma experiência de gravidez, parto e pós-parto normal. No entanto, a mulher com ostomia deve ter precauções muito cedo, durante o período pré-concepcional (mesmo antes da gravidez), de modo a que receba informações específicas para que sejam detectados precocemente sinais e sintomas de complicações.

CUIDADOS COM A ALIMENTAÇÃO
Em termos de alimentação, a grávida com ostomia deve atender aos mesmos cuidados que as grávidas em geral, fazendo uma alimentação variada, rica em nutrientes essenciais, e com a quantidade de calorias adequada à fase de desenvolvimento fetal. No entanto, será necessário um suplemento de ácido fólico e de vitaminas devido à maior dificuldade de absorção dos alimentos. A dieta deve ser planeada conjuntamente com as modificações do estoma para facilitar o crescimento do feto. Deve ser dada atenção ao controlo do gás e do odor. O gás do intestino provém do ar que é deglutido (engolido), das bebidas com gás e da acção das bactérias sobre a comida indigesta. A grávida com ostomia não deve ingerir as chamadas “fast food” e bebidas gaseificadas. Para prevenir o odor, existem ainda sacos mais adequados. Outra medida de controlo é a utilização de desodorizantes no saco de ostomia.

DESCONFORTOS DA GRAVIDEZ
No primeiro trimestre são comuns, em cerca de 80% das grávidas, as náuseas e os vómitos. A grávida com ostomia deve comunicar à equipa de saúde se os vómitos ocorrerem mais do que uma vez por dia, ou se tiver sinais de desidratação tais como a urina muito concentrada (escura) e a boca seca, uma vez que pode colocar em risco o equilíbrio de líquidos e nutrientes. São perdidos cerca de 500 a 750 ml de líquidos por dia através do estoma comparando com os 100 a 200 ml de líquidos perdidos pela maioria das pessoas que têm um intestino intacto. Os cuidados a ter no caso de náuseas e vómitos são: evitar o contacto com cheiros intensos; comer tostas ou bolachas secas antes de levantar de manhã da cama; ingerir refeições pequenas, mas frequentes; evitar alimentos gordurosos ou muito condimentados; ingerir líquidos frequentemente entre as refeições. Se ocorrer, no entanto, a desidratação, terão de ser administrados líquidos e electrólitos por via endovenosa (pelas veias).

PREPARAÇÃO PARA O PARTO, NASCIMENTO E PÓS-PARTO
A grávida com ostomia deve participar num curso de preparação para o parto pelo método psicoprofilático de Lamaze que consiste essencialmente na realização de exercícios físicos, exercícios de relaxamento e respiratórios.
A grávida com ostomia tem habitualmente um trabalho de parto e parto semelhante ao de qualquer outra grávida. A maioria dos partos é vaginal. A taxa de nascimentos por cesariana nas grávidas com estomas é de cerca de 27%, semelhante à população geral. Recomenda-se durante o período expulsivo a observação do estoma durante e após a contracção e episódio de puxo.


__________Sónia Soares Enfermeira do Centro de Saúde de Santa Maria da Feira

BIBLIOGRAFIA
Aukamp V, Sredl D. Collaborative care management for a pregnant woman with an ostomy. Complement Ther Nurs Midwifery. 2004 Feb; 10 (1): 5-12.
Sredl D, Aukamp V. Evidence-based nursing care management for the pregnant woman with an ostomy. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2006 Jan-Feb; 33 (1):42-9.